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Respiro sozinha. Perceber a fragilidade desta condição nunca foi tão evidente como na pandemia. Pensar na impossibilidade de respirar sozinha, mais ainda.

Me lembrei de ouvir rádio com meu pai, deitada no ombro dele. O pai massageava meu estômago, a mão dele era seca e fazia um barulho áspero, era bom. Os sons e o movimento da mão às vezes se encaixavam no ritmo da nossa respiração tranquila, enquanto eu via pela janela a paisagem sumir no escuro.

Pensei nessa sensação para este trabalho. Pedi a pessoas muito queridas para contar alguma lembrança e, de alguma forma, relacionar com o isolamento ou algo de agora, a elas a minha imensa gratidão.

Ouvi suas vozes, suas texturas, seus ritmos e nuances enquanto produzia.

Penso na memória como um jogo de montar, que se atualiza, que escapa, cheio de compartimentos, lugares imprecisos, sem bordas, sem prumo. Como algo passado ela não serve, mas talvez sirva como uma espécie de recurso do instante, para apoiar um desejo que se manifesta ou quando um querer é interpelado por forças que podem impedir o existir, o respirar.

Uma lembrança não é inteira, nem é bem uma imagem, nem é bem uma verdade, talvez seja como a atmosfera, que parece ser azul por conta da distância. Lembrar, inspirar e expirar, aqui dentro e aqui fora do meu corpo, ainda são condições intransferíveis e essencialmente frágeis.

No trabalho proponho uma espécie de jogo ou maquete que pode ser montado de diversas formas e é composto de caixinhas em diversos formatos. Algumas caixinhas cabem nos ouvidos e se ouve um som atmosférico, como nas conchas se ouve o mar. Algumas, quando encaixadas na boca, fazem a voz soar macia e profunda, e pode-se ouvir o retorno da própria respiração. Dentro delas pintei de azul e branco, sugerindo nuvens e, por fora, com grafite, fiz desenhos que remetem a paisagens. Mover lentamente para encaixar os desenhos, empilhar ou alinhar as caixinhas juntas ou em conjuntos pode ser uma brincadeira para relaxar e prestar atenção na respiração.

As vozes são de Gabriele Menegati Girardelo, Marvin Rojeski, Coco Capitânio, Joice Beatriz da Costa, Elisa Iop, Dunia Scnheider. Muito obrigada pelo carinho.

.aqui dentro aqui fora.

 

Respiro sozinha. Perceber a fragilidade desta condição nunca foi tão evidente como na pandemia. Pensar na impossibilidade de respirar sozinha, mais ainda.

Me lembrei de ouvir rádio com meu pai, deitada no ombro dele. O pai massageava meu estômago, a mão dele era seca e fazia um barulho áspero, era bom. Os sons e o movimento da mão às vezes se encaixavam no ritmo da nossa respiração tranquila, enquanto eu via pela janela a paisagem sumir no escuro.

Pensei nessa sensação para este trabalho. Pedi a pessoas muito queridas para contar alguma lembrança e, de alguma forma, relacionar com o isolamento ou algo de agora, a elas a minha imensa gratidão.

Ouvi suas vozes, suas texturas, seus ritmos e nuances enquanto produzia.

Penso na memória como um jogo de montar, que se atualiza, que escapa, cheio de compartimentos, lugares imprecisos, sem bordas, sem prumo. Como algo passado ela não serve, mas talvez sirva como uma espécie de recurso do instante, para apoiar um desejo que se manifesta ou quando um querer é interpelado por forças que podem impedir o existir, o respirar. Uma lembrança não é inteira, nem é bem uma imagem, nem é bem uma verdade, talvez seja como a atmosfera, que parece ser azul por conta da distância. Lembrar, inspirar e expirar, aqui dentro e aqui fora do meu corpo, ainda são condições intransferíveis e essencialmente frágeis.

No trabalho proponho uma espécie de jogo ou maquete que pode ser montado de diversas formas e é composto de caixinhas em diversos formatos. Algumas caixinhas cabem nos ouvidos e se ouve um som atmosférico, como nas conchas se ouve o mar. Algumas, quando encaixadas na boca, fazem a voz soar macia e profunda, e pode-se ouvir o retorno da própria respiração. Dentro delas pintei de azul e branco, sugerindo nuvens e, por fora, com grafite, fiz desenhos que remetem a paisagens. Mover lentamente para encaixar os desenhos, empilhar ou alinhar as caixinhas juntas ou em conjuntos pode ser uma brincadeira para relaxar e prestar atenção na respiração.

As vozes são de Gabriele Menegati Girardelo, Marvin Rojeski, Coco Capitânio, Joice Beatriz da Costa, Elisa Iop, Dunia Scnheider. Muito obrigada pelo carinho.

ficha técnica

.aqui dentro aqui fora. 2020

Vinte e três caixinhas de mdf, gesso acrílico, grafite, verniz, tinta a óleo e acrílica.

Medidas de referência: 68 x 59,5 x 5,5cm 

Onze vídeos e seis áudios  

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Realizado durante a pandemia, com a comunidade Uncool Artist, para a  exposição coletiva online Utopias e Distopias Atmosféricas

Publicação online
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